No universo do Direito, onde frases rebuscadas e termos em latim são tratados como virtudes, existe uma verdade incômoda: nem sempre quem fala bonito está comunicando de verdade.
A cultura jurídica brasileira, por tradição, valoriza o jargão técnico, o formalismo exagerado e o distanciamento da linguagem popular. Mas o Direito — por mais técnico que seja — só cumpre seu papel quando é compreendido por quem mais precisa dele: o povo.
Direito não é para elite — é para a sociedade
A Constituição não foi escrita para juristas. Foi feita para proteger a cidadania. As leis que regem nosso cotidiano — do salário à escola, da liberdade à moradia — existem para todos, não apenas para quem tem OAB.
Mas quando o operador do Direito fala de forma inacessível, ele cria uma barreira entre a justiça e a população.
O resultado? Um sistema que intimida, afasta e desinforma. Pessoas com medo de procurar seus direitos, por acharem que não vão entender nada ou que não serão levadas a sério.
Comunicação clara não é simplismo — é respeito
Traduzir o Direito para o povo não é "rebaixar" o conteúdo. É elevar o alcance. É transformar uma linguagem de poucos em uma ferramenta de muitos.
Explicar, com clareza, o que é um processo, um contrato, uma decisão judicial ou um direito básico é um ato de empatia. É sair da bolha do juridiquês e lembrar que justiça também é comunicação.
Falar difícil para parecer superior pode impressionar colegas de profissão, mas falar claro para empoderar o povo transforma vidas.
O jurista como educador social
Todo profissional do Direito tem, de certa forma, uma missão pedagógica: traduzir o sistema jurídico em linguagem cidadã. Isso vale para advogados, juízes, promotores, defensores e também para professores, criadores de conteúdo, consultores e servidores.
É mais trabalhoso? Sim. Requer mais sensibilidade? Também. Mas é aí que entra a nobreza: usar o conhecimento jurídico como ponte, não como muro.
Conclusão: o verdadeiro prestígio está em ser útil
É tempo de rever valores. O prestígio profissional não está em quem cita mais doutrina, mas em quem consegue explicar o essencial para quem mais precisa. A função social do Direito começa pela escuta e se realiza pela clareza.
Levar o Direito ao povo, com simplicidade e profundidade, é um ato político e transformador. Porque quando o povo entende a lei, ele entende também o poder que tem.