quarta-feira, 9 de abril de 2025

Cultura jurídica popular: fazer o povo entender é mais difícil — e mais nobre — do que impressionar colegas

No universo do Direito, onde frases rebuscadas e termos em latim são tratados como virtudes, existe uma verdade incômoda: nem sempre quem fala bonito está comunicando de verdade.

A cultura jurídica brasileira, por tradição, valoriza o jargão técnico, o formalismo exagerado e o distanciamento da linguagem popular. Mas o Direito — por mais técnico que seja — só cumpre seu papel quando é compreendido por quem mais precisa dele: o povo.

Direito não é para elite — é para a sociedade

A Constituição não foi escrita para juristas. Foi feita para proteger a cidadania. As leis que regem nosso cotidiano — do salário à escola, da liberdade à moradia — existem para todos, não apenas para quem tem OAB.

Mas quando o operador do Direito fala de forma inacessível, ele cria uma barreira entre a justiça e a população.

O resultado? Um sistema que intimida, afasta e desinforma. Pessoas com medo de procurar seus direitos, por acharem que não vão entender nada ou que não serão levadas a sério.

Comunicação clara não é simplismo — é respeito

Traduzir o Direito para o povo não é "rebaixar" o conteúdo. É elevar o alcance. É transformar uma linguagem de poucos em uma ferramenta de muitos.

Explicar, com clareza, o que é um processo, um contrato, uma decisão judicial ou um direito básico é um ato de empatia. É sair da bolha do juridiquês e lembrar que justiça também é comunicação.

Falar difícil para parecer superior pode impressionar colegas de profissão, mas falar claro para empoderar o povo transforma vidas.

O jurista como educador social

Todo profissional do Direito tem, de certa forma, uma missão pedagógica: traduzir o sistema jurídico em linguagem cidadã. Isso vale para advogados, juízes, promotores, defensores e também para professores, criadores de conteúdo, consultores e servidores.

É mais trabalhoso? Sim. Requer mais sensibilidade? Também. Mas é aí que entra a nobreza: usar o conhecimento jurídico como ponte, não como muro.

Conclusão: o verdadeiro prestígio está em ser útil

É tempo de rever valores. O prestígio profissional não está em quem cita mais doutrina, mas em quem consegue explicar o essencial para quem mais precisa. A função social do Direito começa pela escuta e se realiza pela clareza.

Levar o Direito ao povo, com simplicidade e profundidade, é um ato político e transformador. Porque quando o povo entende a lei, ele entende também o poder que tem.

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