Falar em meritocracia no serviço público é tocar em um tema delicado. Para alguns, ela representa um ideal de justiça: quem se esforça mais, merece mais. Para outros, é um discurso que desconsidera desigualdades históricas, sociais e estruturais. Mas afinal, é possível falar em meritocracia dentro da administração pública brasileira?
Vamos por partes. No papel, o ingresso na maioria dos cargos públicos se dá por concurso. Ou seja: uma seleção que, em tese, avalia o mérito do candidato por meio de provas. Quem estuda mais, se dedica mais, pontua mais. Esse é, sim, um recorte meritocrático — mas ele começa após um longo caminho, e nem sempre esse caminho é igual para todos.
Há quem possa pagar cursinhos caros, ter tempo exclusivo para estudar, acesso à internet de qualidade, apoio familiar. Outros enfrentam jornadas de trabalho longas, responsabilidades domésticas, falta de estrutura. O mérito existe, mas ele se constrói em terrenos muito diferentes. E ignorar isso é fechar os olhos para as desigualdades que atravessam o país.
Dentro do serviço público, a discussão continua: promoções, nomeações, gratificações, comissões — muitas vezes não seguem critérios claros de desempenho. E é aí que a ideia de meritocracia se fragiliza. Quando o reconhecimento não é baseado em resultados, produtividade ou capacidade técnica, mas em indicações ou relações pessoais, o mérito perde espaço para o apadrinhamento.
Mas então, é tudo um mito? Não necessariamente.
O serviço público pode — e deve — buscar uma gestão mais eficiente, baseada em metas, desempenho e formação contínua. Isso não exclui a sensibilidade social, nem a importância de corrigir desigualdades. Mas também não significa aceitar a mediocridade em nome da estabilidade.
Conclusão
Mais do que repetir slogans, é preciso construir políticas que equilibrem oportunidade e responsabilidade. O mérito tem valor, mas só faz sentido quando todos têm, de fato, a chance de alcançá-lo.
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