quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

A inteligência artificial pode decidir um processo no lugar de um juiz?

A cena parece saída de um filme futurista: um processo é analisado por um algoritmo, os dados são cruzados em segundos e, ao final, a sentença é proferida — não por um juiz de toga, mas por uma máquina. Para quem acompanha de longe, pode parecer exagero. Mas, na prática, a inteligência artificial já vem ganhando espaço dentro do sistema de justiça, e a pergunta deixou de ser ficção científica para se tornar um debate real: será que a IA pode, um dia, substituir o juiz?

Hoje, a inteligência artificial já é usada em vários tribunais do país para tarefas de apoio. Existem sistemas que ajudam a organizar o andamento de processos, localizar jurisprudências e até sugerir modelos de decisão. Esses mecanismos, embora eficientes, não julgam. Eles auxiliam, agilizam, oferecem caminhos — mas não decidem. A decisão continua nas mãos do juiz, como deve ser. Só que, à medida que esses sistemas se tornam mais sofisticados, cresce também a preocupação: até onde vai a tecnologia? Em que momento ela deixa de ser ferramenta e passa a ocupar o papel do julgador?

Julgar um processo é muito mais do que aplicar uma norma. Envolve interpretar contextos, considerar subjetividades, perceber intenções. Uma máquina pode ser programada para reconhecer padrões em milhares de casos semelhantes, mas será que ela consegue compreender a dor de uma vítima, o arrependimento de um réu ou as complexidades de uma situação familiar delicada? Uma IA pode ser precisa, rápida e incansável — mas falta a ela aquilo que é essencial na decisão judicial: o senso de justiça.

É claro que a tecnologia pode — e deve — continuar sendo aliada do Direito. Automatizar o que é repetitivo, eliminar tarefas burocráticas e ajudar a dar mais celeridade aos processos são avanços necessários. Mas isso é muito diferente de transferir a responsabilidade de uma decisão para uma lógica automatizada. A justiça exige mais do que cálculos. Ela exige humanidade, sensibilidade e, muitas vezes, coragem.

Há ainda outro ponto importante: se um sistema de IA toma uma decisão errada, quem responde? O juiz que apertou o botão? O programador que escreveu o código? O tribunal que autorizou o uso? A responsabilização jurídica num cenário como esse ainda é um terreno nebuloso. E quando há dúvidas demais sobre quem responde por uma decisão, a própria ideia de justiça fica comprometida.

Portanto, por mais que a inteligência artificial avance, ela não substitui o juiz. A tecnologia deve servir ao Direito, não assumir o seu lugar. A função de julgar continua — e deve continuar — sendo humana, porque envolve valores que nenhuma máquina é capaz de compreender por completo.

Conclusão

A inteligência artificial pode ser rápida, lógica, eficiente. Mas o Direito é feito de pessoas, para pessoas.

Julgar é mais do que aplicar uma fórmula. É entender o contexto, escutar o que não está nos autos, equilibrar o que é legal com o que é justo.

A tecnologia tem um papel importante, mas ela não carrega responsabilidade moral, nem sensibilidade social. E justiça, no fim das contas, ainda é — e deve continuar sendo — um exercício humano.

O futuro da justiça passa, sim, pela inovação. Mas não existe justiça sem empatia. Não existe decisão justa sem humanidade.


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